16 de abril 2006
Jornal A Notícia
Uma nova arma contra o mau hálito
Centro especializado de Joinville possui um aparelho que identifica as causas da doença
Aline Machado Parodi
Joinville - Mau hálito é uma doença que persegue a humanidade há séculos e que agora começa a ganhar a atenção do meio científico. Em Joinville, existe um dos poucos centros de tratamento da halitose do Sul do País, que possuiu o mais avançado equipamento para identificação das causas da halitose: o Halimeter. É o primeiro aparelho possível de ser utilizado em nível de consultório capaz de quantificar os odorivetores que compõem o hálito, auxiliando no diagnóstico e acompanhamento de tratamento de halitose. O médico gastroenterologista e especialistas no tratamento da halitose, Francisco Amaral, do Instituto de Gastroenterologia e Endoscopia Digestiva de Joinville (Iged), explica que existem diversas causas para o mau hálito e identificá-las é essencial para o sucesso do tratamento. Mas há uma divisão nos tipos de halitose. "Existe aquela que é eliminada através do pulmão, que representa que algum órgão interno não está funcionando bem. Por exemplo, uma infecção pulmonar gera mau cheiro que é eliminado pelos pulmões. É possível descobrir que o paciente está com uma infecção pulmonar através de uma investigação das causas do mau hálito", explica o médico. O mau hálito pode causar outras inflamações, como intestinal. "Bactérias que não pertencem à flora normal do intestino podem ocasionar um estado de decomposição na intestino e esses gases absorvidos pelo sangue vão até o pulmão e são eliminados", afirma Amaral. Outras causas são das vias aéreas superiores, como sinusites crônicas, amidalites e faringites crônicas. Mas a causa mais comum e que atinge cerca de 95% dos casos é o de boca.
Gases de putrefação
O paciente que tem doença do mau hálito tem eliminação de gases de putrefação e isso não significa que ele tenha má higienização da boca. "Nós temos naturalmente um sistema de higienização na boca. E nestes pacientes esse sistema está alterado e com o passar do tempo vai gerar a doença do hálito. Então precisamos pesquisar quais as causas que provocaram essa alteração e tratar as causas. Caso contrário, é mascarar o problema, como passar perfume para disfarçar o cheiro", enfatiza Amaral.
Problema tem cura
Existem vários distúrbios que podem gerar a causa bucal da halitose. Um deles é a saburra lingual, chamada de placa bacteriana da língua. "Acontecem alguns eventos durante a vida da pessoa que podem gerar uma alteração do funcionamento da higienização normal que temos na boca e isso ocasiona um problema de salivação. Há uma colonização normal de bactérias na boca. Nós temos 700 espécies de bactérias, mas elas estão lá harmonicamente. Mas se houver uma retenção orgânica de células alimentares ou descamação da cavidade bucal, essas bactérias vão se proliferar", comenta o especialista Francisco Amaral. Outras vezes, há bactérias que são externas, que destroem as células presente na boca, para comer a proteína e nesta digestão bacteriana elas eliminam o que chamamos de CSV (compostos sulfurados voláteis) e o mais comum é o gás sulfídrico (H2S), que tem o cheiro do ovo podre e esse gás é gerado dessa decomposição. "O que acontece é um esgoto na boca". Esses gases são tóxicos no organismo e não matam a pessoa porque são produzidos em baixíssimo nível e causam uma fadiga olfatória (a pessoa se acostuma com o hálito).
Estatística
As estatísticas mostram que 40% da população mundial uma vez na vida vai ter mau hálito e a grande maioria vai desenvolver a doença do hálito. A halitose orgânica pode ser ocasionada por 56 causas diferentes. "Geralmente, o paciente tem mais de uma causa e podemos afirmar que curamos 100% dos problemas." (AMP)
Tecnologia é aliada
"Todos os tipos de halitose orgânica têm cura, porque conseguimos identificar as causas. A tecnologia de tratamento avançou muito, com produtos que conseguem que haja uma resposta de cura. Isso vai recuperando os mecanismos de higienização e se consegue curar completamente", afirma o médico Francisco Amaral, do Instituto de Gastroenterologia e Endoscopia Digestiva de Joinville (Iged). Um avanço no tratamento é o dióxido de cloro, que vem sendo usado no enxágüe bucal, mas ainda não está popularizado no meio médico. "O tratamento vai depender muito do que está ocasionando a halitose. Se for uma sinusite, vamos tratá-la. Tratamos a doença básica para eliminar o problema", revela. O estresse é um grande fator desencadeador da doença do hálito, pois arrasa com o mecanismo de salivação. Assim como o uso de medicamentos como antidepressivos, tratamentos de câncer, algumas doenças como o diabetes, ingerir pouco líquido e no idoso, por causa da diminuição natural da salivação há mais propensão de ocorrer. Mas ainda existe a halitose psicogênica (halitofobia), em que o paciente não tem mau hálito, mas pensa que tem. "E esse paciente é o mais difícil de tratar. Neste sentido, o aparelho Halimeter nos ajuda a provar para ele que ele não tem mau hálito. Esse laboratório que temos aqui ajuda a identificar esse paciente e encaminhá-lo para o lugar certo", diz o especialista. (AMP)
Pessoas com halitose fogem do convívio social
O especialista em halitose Francisco Amaral, do Instituto de Gastroenterologia e Endoscopia Digestiva de Joinville (Iged), conta que o problema do hálito é tão antigo, que há descrições de achados arqueológicos que mostram que ele vem perseguindo a humanidade através da história. "Já se encontrou ao lado de múmias raspadores de língua de ouro, o que demonstra que eles já se preocupavam com a higienização", argumenta o médico. E existe um histórico de uma batalha da humanidade contra o mau hálito, até com descrições de suicídios por causa do problema. "Isso é uma questão muito importante, porque a pessoa se sente tão rejeitada que chega ao suicídio. E há pessoas que têm um hálito tão intenso que é impossível você conviver com elas. Então, o mau hálito gera o constrangimento social e conseguir a reintegração desse paciente à sociedade é muito gratificante", comemora o Amaral. O assunto ainda é pouco discutido, inclusive dentro do meio acadêmico, tanto que não há uma disciplina sobre o assunto nas faculdades de medicina e nem de odontologia. "Tudo isso ainda é muito desconhecido. E só começou a ser estudado a fundo a partir da década de 90. A comunidade científica ainda não despertou para a realidade do tratamento, e o que temos no Brasil, que é um dos mais avanços neste assunto, são ilhas experimentais de tratamento do mau hálito como a nossa aqui de Joinville", analisa o especialista. Apesar de já existir cura para 100% dos casos de halitose, ainda é muito pouco o número de pessoas que procura tratamento. "O paciente está de certa forma desacreditado dos tratamentos de halitose, devido só agora ter essas ilhas de tratamento científico, a grande maioria era na "empurraterapia". E ele não via solução e acabava num balcão de farmácia comprando produtos que mascaram o problema. O paciente tem vergonha em dizer que tem mau hálito e ele prefere ficar quieto no canto dele, e quem está próximo não fala para não magoar a pessoa. Forma-se aquele mecanismo de defesa, em que cada um fica de um lado e as pessoas passam anos se tolerando e acostumando com isso," critica o médico. (AMP) .
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